Quietinho Ego!

Sábado diz-me o rapazinho da bilheteira do cinema:

“Tens aí o cartão de estudante ou o cartão-jovem?”

Ontem diz o senhor da banca dos legumes (convicto que Eu estiva ali a fazer recados à minha mãezinha e não como pai de família a fazer compras para o almoço):

“Olhe, as folhas deste molho de espinafres estão um bocado amachucadas, MAS DIGA À SUA MÃEZINHA que foi agora, a descarregar...”

Escusado será dizer que isto deixou-me aquela coisa, a que se chama Ego, mais inchada que o seio esquerdo da Lola Ferrari
, mais saltitão que o João Baião a dançar a Macarena e mais colorido que a carinha do Boy George.

Obrigado Mundo!


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Premunições linguísticas

Já aqui defendi várias vezes que o latim desenvolvido pelos portugueses é, para mim, das Línguas mais espantosas e ricas que o mundo tem (tal como a palavra “mãe”). Por esta tomada de posição pública peço desculpa, já que tenho a perfeita noção que ao assumi-la não estou em nada a dignificar o nosso idioma. Mas o que Eu quero realmente é revelar a constatação de mais um exemplo que atesta a minha admiração: a existência de termos para situações especificas, mesmo antes delas sequer existirem. É o caso da acção "alojar".

Ora, o que é que os chineses fazem em Portugal? Nem mais, alojam-se! aLOJAm-se em Portugal.

E pensar que esta forma verbal já existia muito antes dos pequenos mandarins por cá aparecerem...fantástico!


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O estranho caso do ancinho verde

Para começar quero esclarecer que o que irei narrar a em seguida não é bem um “caso”, mas mais um “acontecimento”. Então, passado este esclarecimento fulcral, demos as mãozinhas à atenção e vamos lá.

Tudo se passou numa das praias da zona do Meco (não foi NESSA praia, portanto toca a vestir esse sorrisinho maroto) quando a minha filha me pediu para lavar o seu pequenino, mas enormemente estimado, ancinho verde de plástico, com que ela e o irmão vão riscando o areal inundado de água salgada mas sedento dos traços da imaginação infantil (frase estrategicamente colocada para estimular no leitor um enternecimento que o leve desde já a afeiçoar-se ao ancinho verde).
.
Pediu-me ela carinhosamente para libertar o seu brinquedo preferido dos teimosos grãos de areia e respondo Eu com o gesto típico de quem se deixa levar pelos ímpetos do instinto para as brincadeiras mais aparvalhadas - é real! Eu sei que pelos textos que vou publicando pode transparecer a ideia de que sou um tipo carrancudo e demasiado sério; nada mais falso, também gosto de brincar, até com os meus filhos - vai daí, em vez de deixar uma ondinha banhar suavemente o ancinho, e devolvê-lo...não, agarro no objecto e amando-o para longe, mar adentro, berrando (é o termo) “Isto vai mas é fora!”.

Olho para a carinha dela e reparo que consegui o que queria: um misto de incredulidade e ódio pelo gesto que tinha assistido da parte daquele que deveria zelar e tudo fazer pela sua felicidade. Posto isto, ponho o sorriso mais parvo que tenho (talvez o único…) abraço-a, peço desculpa e acalmo-a, explicando que vou buscar o ancinho, enquanto lhe aponto a coisa, que agora é docemente embalado pela ondulante espuma marinha (cá está mais um imagem terna para poder cativar definitivamente o carinho do leitor pelo objecto).

Levanto-me, dirijo-me ao ancinho náufrago para o salvar, com a água pelos joelhos, e quando me viro para ela e digo “Vês? está aqui, vou apanhá-lo” passa uma onda que o submerge totalmente, e, a partir desse momento, nunca mais o vi!

Fiquei atónito. Era suposto uma de duas coisas: ou aquela porcaria ia para a frente e ficava presa na areia ou ia para trás e continuava a boiar. Mas não, desapareceu! Eu olho para ela e pergunto “Viste o que aconteceu?” e ela, já a contribuir para o aumento do volume do mar com pequenas gotas de água salgada que lhe caíam dos olhinhos “Foi uma onda que lhe passou por cima. A culpa é tua!”. O certo é que na seguinte maia hora procurei acima e abaixo de água, revolvi a areia do fundo e...nada. Nem se pode pôr a hipótese de roubo, uma vez que num raio de 30 metros não estava ninguém.

E assim desapareceu o ancinhozinho preferido. Num segundo boiava, no outro evaporava.

Agora, em vez de revolver o fundo do mar, revolvo o fundo da lógica em busca de explicações. Se estivesse no Loch Ness estava explicado, tinha sido o monstro; se a brincadeira ocorresse em Roswell, é claro que tinham sido os ET’s; se tudo se tivesse passado na Madeira, não restariam dúvidas que se tinha assistido a mais uma reinação de Alberto João; agora no Meco? Que Eu saiba não há monstros nem assombrações, portanto, por mais que remexa na razão, não faço qualquer ideia do que se possa ter passado.

Rogo daqui a alguém que já tenha passado pelo mesmo que me ilumine a escuridão da dúvida e as trevas da ignorância (e não me venham com sugestões ou teorias pintalgadas com o disparate, porque estamos perante um assunto demasiado importante para derivações superficiais, como acho que vinquei devidamente nos parágrafos anteriores).

Versos de desagravo da minha desgraça (com levíssimas influências pessoanas, para os mais incautos) :


Ó mar salgado e soberano, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal e ancinhos de poliuretano
Por te provocarmos, quantas filhas choraram,
Quantos pais em vão procuraram!
Quantos brinquedos ficaram por achar
Para que o foste levar?

Valeu a pena? Assim nada vale a pena
Que a birra não foi pequena


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Obuze mental

Depois de ter tido conhecimento, através do noticiário da Sic – fonte revelada para que não hajam dúvidas -, de que existe um local no Líbano denominado Tiro, rebentou em mim a seguinte questão:

“Olha lá, uma vez que estes tipos já arremessaram a toponímia temática para o médio oriente, não seria altura de mudar o nome da “Faixa de Gaza” para “Faixa de Gaze”? Assim, como assim, aquilo anda sempre por lá tudo enfaixado em ligaduras, portanto era uma homenagem toponímica ao modo de vida da zona, e (porque não?) ao vestuário étnico”.

Pensamento pertinente, não?


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Foquinhas da Patagónia

Quando Eu já repousava encostado à certeza que me conhecia o suficiente para me deixar descansado, eis que a minha mente se destapa durante o sono e deslinda um sonho que me deixa absolutamente descalço em cima das brasas da incredibilidade.

Assim, sem mais nem proximidades visuais com o que vou descrever, sai-me isto numa viagem nocturna ao inconsciente. Deliciem-se:

«Estou com a minha família num enorme parque zoológico norte-americano (sei que o é porque vi bandeiras, ouvi os anúncios das atracções em Inglês anasalado e disse-o aos meus filhos durante o dito sonho). É grande e cheio de gente, grandes lagos artificiais e rochas enormes de tons esbatidos, onde se penduram castelinhos tipo Disney World, envoltos nos respectivos fogos de artifícios multicores, que se deixam ver até na luz da tarde.

Entramos num dos túneis que permite observar um dos lagos artificiais por dentro, mas a seco. È bonito. Dá-nos um sorriso daqueles seguros numa ponta pela admiração e na outra pelo extasiamento aparvalhado. Tudo escuro, mas não preto. Azul. Azulão, de tom forte. Quase luz negra, mas em azul forte. Esta visão aparece-me num ecrã 16:9, tipo plasma. Para onde quer que olhe, é só aquele formato que o meu olhar desenha: uma janela 16:9 de fundo azulão.

Lá vou Eu, com os meus filhos pela mão, quando atravessa a tela do olhar uma pequenina foca – não mais de um palmo – preta às bolinhas brancas, que acena com uma barbataninha e sorri, com aquela cara simpática que só as focas de um palmo têm. Desliza num movimento arrastado e rectilíneo, como se de um jogo de vídeo dos anos oitenta tivesse sido libertada.

“Olhem, meninos, é uma foquinha da Patagónia” Digo Eu deliciado, numa voz de fundo do mar “E outra. E outra”. As foquinhas da Patagónia, nunca mais de três, cruzam-se em trajectórias oblíquas, que começam e terminam em cada um dos limites daquela janela que se mantém rígida e inflexível. Os miúdos gostam e retribuem o aceno aos pequenos e simpáticos bichinhos pintalgados, que continuam a sorrir (como não poderia deixar de ser).

De repente, no mesmo movimento lento e contínuo, mas horizontal – da direita para a esquerda - surge uma desproporcional morsa com uma pele borbulhenta e rugosa (de fazer inveja a um sapo de 743 anos) riscada de verse marinho e lilás, e aproxima-se de uma das foquinhas da Patagónia, comendo-a, não parando esta de sorrir e de acenar enquanto é devorada. Não há sangue, mas a visão angustia-me.

A morsa desaparece na parede do lado esquerdo, e volta a surgir do mesmo sítio, voltando a repetir-se a cena, mas com outra foquinha da Patagónia, que descia num rumo desviado. Ficamos todos especados a olhar. “Está a comer as foquinhas da Patagónia” aponta a minha filha para a brutal morsa. Não digo nada. Já só vejo uma foquinha da Patagónia, que continua na sua simpatia repetitiva. Já só ela se mexe de um lado para o outro, a morsa desapareceu.

E quando o azulão só era interrompido por aquela solitária foquinha da Patagónia, surge do lado esquerdo um tubarão de peluche, rosa-choque, com uns olhos branco globulares, externos ao corpo, e uma boca sorridente onde estão riscados enormes dentes brancos. Todos olhamos para este novo “animal”. Sem mexer qualquer parte componente, o bicho de pelúcia dirige-se para o lado direito e... come a última foquinha da Patagónia, que nadou direitinha à sua bocarra fechada com aqueles dentões brancos.» Fim do sonho. Acordei, não sobressaltado, mas acordei...
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Nota1: o que mais me impressiona – sim, sou impressionável - é o facto de isto se ter passado no início da semana passada e ainda estar bem desenhadinho na minha memória

Nota2: Esta é a versão curta do texto – a versão de coleccionador contém as minhas interpretações – caso queiram adquirir a versão completa dirijam-se a um quiosque que venda o jornal “O crime” na sua edição de Abril, ou arranquem uma pestana, formulem esse desejo com muita força e ponham o dito filamento piloso para dentro da camisola.


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O castigo vem dos céus

Já me tinha perpassado pelos tímpanos que os ingleses mostravam uma impertinência sentadinha ali entre a arrogância descarada e a estupidez absoluta. Eu confesso que nunca o tinha sentido, todavia, e não entrando no terreno movediço da generalização, já posso afiançar que os há (ingleses) bem tacanhos. Muitos e muito.

Provei-o ao assistir a meia-final entre Portugal e a França em pleno bar "britânico" [def.1]. Por má fortuna vi-me rodeado por grunhos [def.2] lá da Inglaterra que ao verem a aura lusa que me envolve (ou talvez pela bandeira, ainda não sei) devem ter logo percebido a minha origem. Vai daí, começaram a soltar urros com z contra a selecção deste pais.

Até aqui compreensível, uma vez que ainda nem se conseguiam sentar direitos depois do que o Ricardo lhes fez (de novo) nos “quartos”. O que se me afigura mais difícil ao entendimento foram as manifestações de incentivo aos gauleses. Terá vindo a ser um engano mEu ou o que mancha a convivência entre ingleses e franceses é muito mais que um canal? Não há uma incompatibilidade ancestral e crónica entre beefs e croissants? Mas afinal estes gajos são petit friends?

Bem, na realidade o que os tais súbditos da majestade deles faziam era emitir um buuuu quando nós tínhamos a bola (que se intensificava com a visão do Cristiano Ronaldo) e um u-áá agitado na cadeira, quando os franceses rematavam. Eu sei que isto pode não passar de manifestações primárias de alguém que se encontra longe de casa, mas para mim eram provocações.

Depois do jogo acabar com a nossa derrota, e do consequente esbracejar, gritos e cerveja entornada por parte deles, só me consegui tranquilizar com a seguinte lembrança: "Coitados destes gajos, no fundo merecem algum tipo de alegria, e até compaixão, pelas punições que recebem do céu - não só o sol lhe dá esta cor rosácea fluorescente que não lembrava a uma hippie psicadélica atestada de LSD, como ainda têm de ouvir as instruções, o clima e a duração dos voos pela voz megafónica de hospedeiras e comandantes aeronáuticos espanhóis, franceses ou alemães que mastigam o inglês e o bolçam num dialecto comico-indecifravel. Não lhes deve ser nada agradável ver as suas palavras tão escalavradas cada vez que voam. Pelo menos para mim é um suplício, calculo que para eles não seja menos." Deixá-los lá.

(e nem menciono o tormento que deve ser ter como primeira visão diária aqueles trambolhos [def.3] a que chamam wife, uma vez que tais condenações não vêem do céu, quanto muito descendem de um dos buracos mais obscurecidos do inferno)

Def.1 - local onde se bebe, como nos outros locais onde se bebe, mas frequentado essencialmente por britânicos

Def.2 - indivíduos que usam o grunhido para manifestarem algo parecido com um pensamento

Def.3 - massa disforme de gente com parecenças muito, mas mesmo muito, ténues com uma mulher


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para mim o Mundial é como o futebol: é isto!


Eu nem era para estar aqui já que os pesados portões da época “férial” se escancaram para a minha cansada mente, mas de repente consciencializo-me da seguinte realidade irrefutável (mesmo para mim, que me custa a admitir tais assomos à realidade): “Olha lá, pá – é como me trato quando me confronto -, então tu vais de férias e nem uma palavrinha sobre o mundial de futebol? Quer dizer, andaste a sorver tudo o que era informação, jogos, boatos, símbolos, comentários, hinos e demais derivações desse acontecimento quatrienal, e nem produzes uma reflexão, opinião, crítica ou mesmo uma mentira sobre tal evento, mEu ingrato do c...!” .

E foi assim que desesperadamente procurei uma entrada virtual para poder publicar as minhas conclusões sobre esta organização fifó-germânica (e faço-o agora porque quando voltar ao teclado, já o campeão do mundo terá sido consagrado e os estádios estarão vazios de público, bola, árbitros, jogadores, papelinhos, cascóis, bandeiras... acho que já me expliquei, não é?). Então, sem mais demoras, que o sol do descanso brilha lá fora, cá ficam as minhas notas para um futuro no qual Eu possa relembrar-me do que realmente significou para mim este colossal sarau das nações da bola:

- Os microfones causam alergias e despenteiam os jogadores de futebol (senão é vê-los cheios de comichões e a pentearem a nuca de cada vez que as referidas “mocas da fala” se lhes são dirigidas);

- Todos os neurónios de um jogador de futebol estão ligados ao seu sistema locomotor (basta observar que seja qual seja o local supostamente agredido – incluindo olhos, orelhas, queixo e demais partes integrantes da cabeça - o jogador se deita na relva e quando se levanta começa por coxear)

- O futebol italiano não só é mais traiçoeiro que uma jovem que se casa com um idoso rico, como ainda recorre a estratagemas de índole estético para ganhar os jogos mais facilmente (é claro que os árbitros têm relutância em punir os jogadores italianos e que os adversários têm uma enorme dificuldade em fazer faltas sobre aqueles… eles são tão bonitos!)

- Os brasileiros acham que as regras do futebol mudaram (para eles “o melhor” é quem diz mais vezes que é melhor e não quem ganha os jogos)

- Se algum extraterrestre chegasse por esta altura a este planeta azulado e se pusesse logo a ver um jogo da França – que seria o mais normal a fazer, convenhamos - pensaria que o país do galo se localizaria ali entre o Botswana e Zimbabwe (viva a mistura de raças e o “despreconceito” que libera o treinador francês para colocar alguns brancos na equipa)

- Já prevendo o que lhe iria acontecer (e doer!) no desfecho da contenda, o matarruano Wayne Rooney tentou castrar os portugueses (lixou-se, que desta vez nem foi preciso tirar as luvas para efectivar mais um... como dizer...)

- Para além de um equipamento laranja cada vez mais irritante, os holandeses têm mau perder (vão cheirar túlipas, oh cambada de tamancos janados)

- Os jogadores das selecções africanas corriam mais que as do restante mundo, por isso é que as camisolas ficavam tão suadas (foi a marca desportiva «Puma» que me pagou para escrever isto)

- Pela minha imperdoável desconfiança, encontro-me à disposição do Ricardo e do Figo para me penalizarem como queiram (desde que tragam as respectivas mulheres)
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Nota final: acredito como desde o início que a bandeira do campeão deste mundial terá uma esfera armilar com sete castelinhos, a ver se não me engano...


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