Tal como a necessidade de respirar algo que contenha O2 para poder sobreviver (nem que seja debaixo de água), é universalmente aceite pelos pensadores filantrópicos que a maior parte das pessoas que engrossam o número da “grande generalidade das pessoas” deturpam a voz e os gestos na presença de bebés. Na prática isto equivale a dizer que se auto-ridicularizam, aparvalhando o seu comportamento gestual e vocal, para tentar ficar tão infantis como o seu interlocutor, a ver se conseguem algum tipo de comunicação que resulte em sorriso. Ora, muito antes de conseguirem destilar o tal sorriso pueril, conseguem precipitar sorrisos em todos os adultos circundantes. Principalmente a mim.
Mas a pior fase desta desevolução confrangedora é mesmo o remate final. Normalmente, depois de muitos “bilús-bilús” e “brrrrsss”, que mais não fazem que deixar a cara dos petizes infestada de partículas de cuspo, a pessoa ergue-se da sua palermice, tenta recuperar o seu estatuto de ser racional e diz: “coitadinho, é tão giro” ou “coitadinho, é tão querido” ou “coitadinho, é tão calminho” ou “coitadinho, está a sufocar” ou…como acho que está explícito, o “coitadinho” está sempre presente independentemente da constatação seguinte. E isto, para além da quase incompreensível figura que se fez anteriormente, é uma injúria para a minúscula pessoinha que acabou de se sujeitar à visão de algo que, felizmente, só assistirá de novo quando for “um adulto na presença dum bebé” ou um dos “adultos circundantes”.
Coitadinho? Porquê!?!? A não ser pelo facto de não poder fazer mais que mostrar as goelas perante aqueles desfasamentos intelectuais, não vejo o porquê de colar tal adjectivo a um bebé. Ainda por cima é algo que denigre a qualidade humana. E passo a explicar.
Em última instância, a condição de “coitadinho” deriva da palavra primitiva “coito”. E deriva, neste caso, quer ortograficamente quer do modo de acção, já que a própria actividade “coito”, foi o que deu origem ao bebé. Como tal, estar a chamar ao bebé “coitadinho” significa das duas uma:
Ou se está a afirmar que ele é um “fodidinho”, o que é mesquinho. Está certo que a criança acabou de estar sujeita à pessoa que agora a calunia com aquele epíteto, mas se é para ofender então que digam que o bebé é “coitado”, com o consequente agravamento da condição. Acho que é melhor ser/estar “fodido” que “fodidinho”;
Ou então - pior – insinua-se que aquele bocadinho de gente, ao ser coitadinho, resultou de um acto…inho. Como alguém que foi pouco molhado fica molhadinho, também aquela criancinha terá sido o produto de um coitinho. Uma fodinha. Isto denigre.
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Portanto rogo para que, a partir deste momento façam como Eu – nunca apelidem um bebé de “coitadinho”. Podem até continuar a viajar até ao lado mais disparatado da postura humana, mas não caiam na tentação de “acoitadinhar” as criancinhas. Não é justo.