Preliminares é com os passarinhos

Como Eu não tenho nada que fazer durante a parte diurna do dia, costumo deter o mEu corpo, e respectivos olhos, a observar os passarinhos nas suas cortes de acasalamento (nunca se sabe quando é preciso procriar, e os animais serão sempre bons exemplos de observação, em detrimento dos calhaus).

Foi então que me ocorreu esta ofuscante dedução dogmática:

Cada ave que consegue quebrar a casca do seu cárcere oval foi originada por uma relação sexual completa.

E porquê? Simples! Porque por cada jovem passarinho que irrompe para a vida temos sempre a certeza - não é preciso crer, basta ver - que um bico foi feito.

Até já estou a imaginar o diálogo entre o casal:
- o gavião quer bicar a passarinha, quer? vamos fazer um borrachito? (diz a passarinha com o coração a bater que nem um semelhante)
- claro que sim, sua pássara palpitante. E por onde começamos? (responde ele sem qualquer pena)
- olha, podemos começar pelo biquinho, a ver se sai forte e longo como o teu (responde a fêmea com um piozito envergonhado)

Como é perfeita a mamã Natureza!


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Mas qual bzzzzzzzzz? O brrrrrrrrrr é que acorda!

Como já fiz questão em revelar em textos anteriores – para que não pensem que Eu ando aqui a esconder-me atrás de qualquer tipo de anonimato – o meu lar localiza-se nas imediações imediatas de vastos e esbeltos arrozais.

Os mais cépticos à verdadeira qualidade de vida num meio rural costumam alertar-me sobre o perigo de incómodo que poderá advir daquelas intensas maternidades de mosquitagem. Coitadinhos, como se os frágeis e ínfimos mosquitos pudessem pôr em causa o prazer do vislumbre de infindáveis campos verdejantes ou o cheiro putrefacto das adubações orgânicas.

Se querem falar do transtorno causado por bichos alados provindos dos arrozais, vamos falar de aviões. Nem mais.

Enquanto grande parte dos ensonados matinais (“alguma parte”, pronto) costuma justificar profundas e negras olheiras com o facto do sono ter sido dividido e subtraído (e traído!) por uma qualquer melga mestrada na matemática da insónia, a mim o que me roí o sono não é o zunir das asinhas dos mosquitos do arroz, são os aviões do arroz.

O que se passa é que, por esta altura, os arrozais precisam de uma coisa chamada “Ordram” para serem sanados das malvadas plantas invasoras que destroem a exclusividade da Oryza sativa na ocupação dos talhões (quem tiver curiosidade sobre estes temas macabros basta procurar por “ordram”, e cuidado para não se atascarem na informação recebida). E para destruir a tamanha maldade infestante, os senhores agricultores fretam idosas e barulhosas avionetas que se encarregam de pulverizar arrozais e arredores com a extrema-unção da invasão abusiva – o tal do Ordram. Até aqui tudo normal, sem ser os habitantes de Camarate, ninguém se deve traumatizar com a passagem de um mono-motor alado rente à cumeeira do seu telhado.

O verdadeiro problema é que aquele tipo de animal (as avionetas) sai do ninho muito cedo - por volta das seis da manhã, já elas andam a grasnar céu afora. E depois, a acrescentar a este mau hábito, a minha casa situa-se precisamente debaixo de uma das suas rotas de voo predilectas. Ora, imagine-se o que é começar a ouvir, consecutivamente a partir dos primeiros raios de madrugada, o barulho de uma FAMEL a cruzar-nos o tecto. Isto dias seguidos. Parece que estamos a dormir dentro do poço da morte da Feira Popular. Posso dizer que é, nos mínimos, uma maneira relativamente irritante de começar um dia que se espera risonho.

Por isto é que quando o que me incomoda o sono é uma melguinha a roçar as asas nas minhas orelhas, Eu sorrio ternamente, deixo-lhe um beijo no ar e viro-me para o lado, embalando o adormecer naquela melodia tão inocente…


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Pior que estragado

Mesmo sem querer, tenho andado a ouvir na Rádio um anúncio que faz uso da conversa entre um casal em que o “macho” diz para a sua “parceira” que o que lhe estava mesmo a apetecer era um Mon Chéri, mas que agora não se vendem, porque nesta altura se podem estragar.

Nem sequer vou urdir qualquer tipo de consideração sobre um “homem” que se vira para a esposa e lhe diz que o que mais lhe apetece naquele momento é um chocolatinho com nome francês. Isto revela o reforço da ficção publicidade adentro (na realidade aquele senhor devia era dizer aquilo para um jovem estivador senegalês em tronco nu e com uma embalagem de vaselina a voar de uma mão para outra, isso sim era uma situação adaptada à verdade).

O que me adensa a dúvida é que, se bem me lembro das inúmeras coisas estragadas que Eu tenho vindo a ingerir ao longo desta vidita, a deterioração do estado inicial de um vívere implica a perca da sua qualidade gustativa. Ou seja, qualquer alimento que se estrague passa a entrar na abrangente categoria de “nojo”. E a pergunta é:
Mas será que os responsáveis por aquele produto acham mesmo que o azedume poderá contagiar ainda mais aquilo?

(para melhor entendimento desta relutância para com o receio – e recheio! - dos senhores da chocolataria gaulesa, ler AQUI)


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MISSão difícil

Quem acusa as candidatas a miss de serem pessoas com um elevado défice de inteligência e desprovidas de senso comum - e incomum - ou está de má fé ou não é amigo dos animais.

Ser miss deve ser um suplício e aquelas meninas candidatam-se, desde logo, por serem dotadas de um espírito de sacrifício louvável (fazem-no para que o comum dos perecíveis não tenha de se expor naquelas figuras caricatas encimadas por penteados que rebentam a proporção do ridículo), e depois para formularem desejos cuja importância jamais deveria cair no esquecimento dos concidadãos desta aldeia abrangente a que se vai chamando “mundo”. Coisas como a paz mundial, o fim da fome, a felicidade de todas as criancinhas e um saudável “boa sorte às minhas amigas companheiras” de certeza que cairiam na ampla cova onde se enterra o esquecimento global, não fossem os concursos a miss.

Há que valorizar aquelas jovens. Eu faço-o porque respeito a sua capacidade quase estóica de sofrimento em geral, e particularmente no que toca aos tormentos alimentícios a que estão sujeitas. Sim porque a comida dos bastidores há-de ser muito pior que a dos aviões, e as vencedoras devem ter de continuar a emborcar daquilo pelo menos até ao próximo concurso. E elas sabem-no bem. Senão porque razão aparecem sempre tão escanzeladas, começam a chorar e levam logo as mãos à boca assim que são anunciadas as detentoras do pódio? Aquilo devem ser mistelas horríveis que provocam vómitos e choro só de lembrar…coitadas! (ou então é a grinalda e o bastão que têm uns picos que se enterram até à mais sensível carne; mas isso era demasiado sádico…até para mim).

Às vezes, só de as ver naquela aflição até Eu sinto vontade de regurgitar e deixar escorrer uma ou outra lagriminha.

(já agora, “miss” também quer dizer “falta”, está giro! “miss simpatia”; “miss fotogenia”…e para quando o prémio “miss cultura” e “miss inteligência”? já era mais que tempo de fazer jus ao título de “miss” e de privilegiar mais que o mero e efémero valor do corpo)


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As gajas são lixadas prá porrada!

Por motivos que não devem interessar à maioria das pessoas quem me lêem na zona mais chuvosa do Suriname, Eu tive de passar alguns dias a fio no aeroporto de Lisboa. É uma experiência relevante para a constituição da personalidade de todos aqueles que se interessam por enriquecer a sua vida com o vislumbre das vidas alheias. E para mim também, claro.

Ora, nas longas horas de espera com que engordei o saldo de tempo dispensável que cada vez mais se esgota no meu relógio, tive o prazer de observar e confirmar um dos mistérios mais duradouros da indagação que forra parte da minha curiosidade. Trata-se obviamente do comportamento feminino durante uma escaramuça física (ou “bulha”, num termo mais próprio a este tipo de prosa).

Tendo já assistido a algumas disputas femininas ao longo do tempo que passo desperto (e muitas outras a dormir), ao presenciar mais dois excelentes exemplos do maravilhoso mundo da pancada entre senhoras uma certeza se adensou no que tomo por certo neste mundo: As mulheres, quando se engalfinham umas nas outras (à porrada! importante este detalhe…), visam logo o cabelo das antagonistas.

Eu já desconfiava disto a partir da 357ª vez que assisti a tal contenda, e em todas elas se verificava que, assim que a coisa se iniciava, as mãos das contendoras se magnetizavam para os fios que cobrem o couro cabeludo. Mas estas duas últimas vezes no aeroporto serviram para aterrar definitivamente tal verdade. Agora só restava perceber o porquê. Sim, porque se percebemos que um cão se atire ao pescoço de outro, um gato aos olhos e um homem tente esmurrar as trombas ao seu adversário – tudo coisas que podem aleijar mais ou menos – era imperativo perceber se aquela fixação na “cama da laca” por parte das senhoras teria ou não o mesmo propósito da agressão pela dor violenta.

E, para surpresa das surpresas, mais estas derradeiras observações serviram para desmistificar o porquê do agarranço nos cabelos quando as mulheres se engatam à briga. Realmente aquilo tem mesmo um propósito de causar dor, mas não é dor física. É a dor da vergonha. É a dor da humilhação pública. E porque digo Eu isto? Porque tão certo como elas se agarrarem aos cabelos umas das outras, é o reflexo de se tentarem pentear quando a coisa acaba.

Ora, está então visto que quando elas se emaranham nos cabelos umas das outras o que pretendem é despentear a oponente o mais possível. E sabendo todos nós como uma mulher se apavora por aparecer despenteada em público, depressa poderemos concluir que é esse o propósito daquela obstinação. E bastante traiçoeira, diga-se de passagem, porque de certeza que elas preferiam levar um valente chapadão a ficarem todas despenteadas.

E depois quem é que ganha? Ganha aquela que mais depressa consegue por a peruca o mais parecido com o que estava antes do reboliço. Quando aquilo termina ambas tentam acalmar os filamentos mais eriçados, aquela que ajeita o despenteamento mais rapidamente, ganha. À outra resta continuar a tentar, de cabeça baixa, e começar a chorar por não o conseguir…


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Aaaaaiiiiiiiii a bicicleta

Andar de bicicleta é mesmo um exercício exemplar no bem que faz não só ao corpo, mas sobretudo à parte da mente que se ocupa em guardar conhecimento. Por exemplo, Eu antes de começar a andar de bicicleta não tinha bem a consciência de que havia um períneo em mim e muito menos qual era a sua extensão (quer dizer, saber até sabia, nunca imaginei é que também ficasse assim tão cheio de mágoa).

NOTA: como é óbvio, o períneo dorido implica a utilização explícita do selim; não adianta ser RECTO e começar aí a congeminar cenários erróneos, e muito menos aventá-los nos comentários.


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Eu dantes tinha um blog…

…e era giro! Tinha textos menstruais (i.e. com uma regularidade periódica, tal como aquele fenómeno feminino), comentários, respostas, leitores que não eram Eu, leitores que era Eu…

Agora tenho um blog, e é giro! Só me falta é o tempo para ter aquelas coisas todas no blog que Eu dantes tinha. Digamos que estou a entrar na “menopausa blogueira”…


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