Por motivos que não devem interessar à maioria das pessoas quem me lêem na zona mais chuvosa do Suriname, Eu tive de passar alguns dias a fio no aeroporto de Lisboa. É uma experiência relevante para a constituição da personalidade de todos aqueles que se interessam por enriquecer a sua vida com o vislumbre das vidas alheias. E para mim também, claro.
Ora, nas longas horas de espera com que engordei o saldo de tempo dispensável que cada vez mais se esgota no meu relógio, tive o prazer de observar e confirmar um dos mistérios mais duradouros da indagação que forra parte da minha curiosidade. Trata-se obviamente do comportamento feminino durante uma escaramuça física (ou “bulha”, num termo mais próprio a este tipo de prosa).
Tendo já assistido a algumas disputas femininas ao longo do tempo que passo desperto (e muitas outras a dormir), ao presenciar mais dois excelentes exemplos do maravilhoso mundo da pancada entre senhoras uma certeza se adensou no que tomo por certo neste mundo: As mulheres, quando se engalfinham umas nas outras (à porrada! importante este detalhe…), visam logo o cabelo das antagonistas.
Eu já desconfiava disto a partir da 357ª vez que assisti a tal contenda, e em todas elas se verificava que, assim que a coisa se iniciava, as mãos das contendoras se magnetizavam para os fios que cobrem o couro cabeludo. Mas estas duas últimas vezes no aeroporto serviram para aterrar definitivamente tal verdade. Agora só restava perceber o porquê. Sim, porque se percebemos que um cão se atire ao pescoço de outro, um gato aos olhos e um homem tente esmurrar as trombas ao seu adversário – tudo coisas que podem aleijar mais ou menos – era imperativo perceber se aquela fixação na “cama da laca” por parte das senhoras teria ou não o mesmo propósito da agressão pela dor violenta.
E, para surpresa das surpresas, mais estas derradeiras observações serviram para desmistificar o porquê do agarranço nos cabelos quando as mulheres se engatam à briga. Realmente aquilo tem mesmo um propósito de causar dor, mas não é dor física. É a dor da vergonha. É a dor da humilhação pública. E porque digo Eu isto? Porque tão certo como elas se agarrarem aos cabelos umas das outras, é o reflexo de se tentarem pentear quando a coisa acaba.
Ora, está então visto que quando elas se emaranham nos cabelos umas das outras o que pretendem é despentear a oponente o mais possível. E sabendo todos nós como uma mulher se apavora por aparecer despenteada em público, depressa poderemos concluir que é esse o propósito daquela obstinação. E bastante traiçoeira, diga-se de passagem, porque de certeza que elas preferiam levar um valente chapadão a ficarem todas despenteadas.
E depois quem é que ganha? Ganha aquela que mais depressa consegue por a peruca o mais parecido com o que estava antes do reboliço. Quando aquilo termina ambas tentam acalmar os filamentos mais eriçados, aquela que ajeita o despenteamento mais rapidamente, ganha. À outra resta continuar a tentar, de cabeça baixa, e começar a chorar por não o conseguir…