“A” incoerência

De todas as personalidades míticas, vivas e mortas que fazem parte do depósito cultural da Humanidade, qual seria aquela de Quem menos esperamos um assomo de incoerência? Que a inquietude avulsa sossegue para esses lados que Eu respondo já: Deus. Nem mais! Sendo o Arquitecto supremo de um trabalho de seis dias que completou a perfeição no descanso do sétimo, não seria esperar d’Ele nada menos que não fosse, não seja ou não será, no mínimo, inquestionável.

Possivelmente, para muitos não será assim, para outros muitos é mesmo assim, e alguns nem saberão (ou não querem saber) sobre Quem estou a escrever. Contudo, há um “assunto” no qual Ele se espalhou ao comprido sobre a infinidade celeste. Acredito que não tenha sido por maldade (até porque estamos a falar do Barbudo Divino). Talvez cansaço. Possivelmente distracção.

Refiro-me ao episódio da sua representação no mundo dos Homens. Mais concretamente ao Seu Filho. Mais concretamente, ainda, à escolha da Mãe do Seu Filho.

Está certo que ele tenha escolhido o ventre de uma virgem para acolher a Semente Sagrada. É justo (e higiénico da parte Dele, digo Eu). Agora, dentro da imensidão de escolhas que se Lhe ofereciam (não nos esqueçamos que isto se passou há mais de 2008 anos, altura em que ainda haviam muitas virgens pela Humanidade a fora) o nosso Pai Global vai logo optar por uma Mulher casada? Uma Mulher casada?!?! É verdade que o Marido era um Santo, até se chamava José e tudo, e era carpinteiro, mas daí a manter uma esposa virgem após o casamento vão muitas marteladas e serradelas.

Aqui, para mim, reside parte da incoerência – escolher uma Mulher casada para Mãe do Seu Filho, e depois apresentá-la ao mundo como Virgem.

Mas a tal incoerência completa-se um Testamento antes. Por essa altura, escreveu ele, em duas lajes, Dez Mandamentos que o Profeta Moisés teve a honra de, primeiro, ler e, depois, experimentar o peso dos sacros calhaus, espalhando a palavra Dele e a sua espondilose. E, sintetizando, o que é que estava escrito nos pontos 7 e 10 da segunda Tábua da Lei? Mais uma vez eu respondo:

“7 - Não cometerás adultério”

“10 - Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu touro, nem seu jumento, nem qualquer coisa que pertença ao teu próximo.”

Ora, o Homem escreve isto – em tábuas de pedra, importante! – e depois deposita o Filho no ventre de uma Mulher casada, que era suposto ser virgem? É impressão minha ou há por aqui uns toques de desconformidade com aquilo que se diz e aquilo que se faz?

E agora acrescento aqui mais duas questões à introspecção de cada um: e se José tivesse escravo, escrava ou até um touro, como teria sido? E por onde andava o jumento naquela altura, será que este utilizou o conhecido instinto preventivo animal para se esconder ou simplesmente fugiu?

(agora vou ali flagelar-me e fechar os olhos com muita força a ver se não sou castigado, já que Ele também escreveu:

3 - Não tomarás o nome de YHWH, teu Deus, em vão, pois YHWH não considerá impune aquele que tomar seu nome em vão.

9 - Não levantarás falso testemunho
contra o teu próximo.

E se a segunda não me preocupa por aí além - já que nenhum dos visados é meu vizinho - a primeira impõe mais respeito. Espero que ter usado sempre letra grande em tudo o que Lhe diz respeito sirva de atenuante. Deus queira que sim. Amén!)


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