Florescentes ou Fluorescentes?

Nesta época em que a peregrinação se veste e reveste com uma importância quase nacional, não Eu posso deixar de ver algo (é este o termo mais correcto) que me leva a solidarizar com o alvo de tais passos sacrificados – Ele mesmo! Então, segure-se lá bem que a explicação de tal posição solidária segue de seguida.

Como é do conhecimento de todo e qualquer cidadão português, este imperativo obrigatório que impõe o uso de coletes fluorescentes a quem se encontra apeado numa via de trânsito foi imediatamente aceite e posto em prática pela generalidade das pessoas que se vêm em tal situação. Ora, até esta semana isto alegrava-me, porque demonstra que somos um povo ordeirinho que faz questão de respeitar as doutrinas legais, principalmente as que escorrem da mãe Europa. Digo “até esta semana”, porque com o despertar oficial da “floração peregrina” reparei – porque tinha mesmo de ser – que também os peregrinos se encaixam no decreto que obriga à utilização daquelas vestes de cor berrante e reflectora. “E que mal tem isso?” será esta a expressão que o faz a si, respeitado leitor, franzir a sobrancelha neste momento. Tem mal, tem.

Se por um dos lados do assunto, é mais que aceitável que cada peregrino se equipe com a mancha “Estou aqui, não me atropelem”, por razões óbvias de segurança, se rodarmos o prisma da coisa poderemos observar algo que complicará o seu reconhecimento divino (no fundo o propósito da caminhada). O que se passa é que dantes conseguíamos identificar facilmente os peregrinos - eram aqueles que caminhavam, sós ou emparelhados, à beira da via com uma vara na mão, com um boné branco ou com um casaco atado á cintura (pelo menos uma destas “marcas” estava visível). Agora, com os coletes vestidos tudo se alterou. Sim, poderemos alegar que para além da maior visibilidade/segurança que aquilo confere aos trajados, também poderá facilitar a sua observação lá de cima por Quem os deverá ver cumprir a andança (o que deve ser agradável, uma vez que os anos nubelecem a vista e, segundo dizem, o Senhor já cá anda há muitos); contudo, como será agora possível distinguir que aquela pessoa que ali se apresenta na berma se trata de um pagador de promessas ou de alguém que ficou sem combustível uns quilómetros atrás? Ah pois, como é que é possível saber, aqui ou lá em cima, se a caminhada observada é um acto de fé ou um acto de desespero de alguém que teve um furo e não tem chave para mudar a roda, pelo que teve de partir à descoberta? Não é possível.

Proponho que se crie uma nova cor para os coletes de peregrinação, sob pena de alguns pecadores serem confundidos com peregrinos, e daí poderem obter benefícios enviesados. É o que Eu proponho antes de desejar um bom fim-de-semana.

Bom fim-de-semana.

6 Comments:

Blogger antónio paiva contribuiu com estas palavras sábias:

.....eu estou a precisar desse colete porque sou pecador e muito, perigrino só às vezes, quando souberes que estão no mercado avisa.....

;)

maio 12, 2006 6:56 da tarde  
Blogger Mac Adame contribuiu com estas palavras sábias:

Se aparecer por aqui alguém ligado ao joelhódromo da Fátima, aproveita a ideia e no próximo ano lá terão os coletinhos à venda. Ah, pois, que olho para o negócio é coisa que não lhes falta!

maio 13, 2006 1:45 da manhã  
Blogger alyia contribuiu com estas palavras sábias:

Já te estou a imaginar de banca montada a vender coletes

maio 13, 2006 10:39 da tarde  
Blogger isabel mendes ferreira contribuiu com estas palavras sábias:

e sem ser do lado do mar...eu. aqui. fósforo?



beijo.

maio 14, 2006 3:36 da tarde  
Anonymous Anónimo contribuiu com estas palavras sábias:

Tu,
Eu não sabia que por estas bandas, (Terra), haviam pecadores...ehehehe
Beijo terno e eterno.

Ana Pinheiro

maio 14, 2006 4:54 da tarde  
Blogger [A] contribuiu com estas palavras sábias:

não vai tudo dar no mesmo??
um acto de fé não é ele também "um acto de desespero de alguém que teve um furo e não tem chave para mudar a roda, pelo que teve de partir à descoberta?"?

maio 15, 2006 12:39 da tarde  

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