Precipitação na precipitação

“E quando deres por ti
Entre a chuva dissolvente
És o pai de uma criança
No seu caminho de casa”

In Chuva Dissolvente (Xutos e Pontapés)

(a citação anterior não tem nada a ver com o texto que se seguirá – a não ser a palavra chuva - mas, de vez em quando, fica bem uma citação, mesmo que pertença aos Xutos)

Agora que a chuva - cá está a ligação com a citação – voltou, Eu não posso deixar de colocar uma questão que deve crepitar no espírito da nossa espécie, desde que o Homem enfrentou o primeiro Outono e começou a levar com pingas de água naquilo que mais tarde resolveu chamar de “cabeça”:
Quando começa a chover, e não temos nada que nos proteja, o que é que devemos fazer? Corremos ou andamos até ao abrigo mais próximo?
Dizem os doutos da sabedoria popular que “Quem anda à chuva, molha-se”; então e quem corre, não se molha? Até parece que a corrida impermeabiliza o corpo, assim tipo propriedade de super-herói. Nada disso, meus amigos, e vou prová-lo, por “j+k”, que, em certas circunstâncias, correr ainda molha mais que andar.
“Lá está este gajo a complicar” oiço já da parte do clã dos rezingões que aqui costuma vir; mas não estou, é verdade.
Imaginemos a seguinte situação (se estiverem dispostos a isso, como é óbvio, que Eu não obrigo ninguém a nada): vamos escolher num sítio qualquer do nosso lindo Portugal, digamos em Lisboa, para não ser tendencioso. Ora, estamos em plena Praça do Comércio a adorar a estátua equestre de D. José I e, antes de pousarmos o olhar “na pata direita” do cavalinho, S. Pedro resolve descarregar um peso de água daqueles que só a negridão das nuvens que cobriam o céu fazia adivinhar. Como não temos guarda-chuva, nem gabardina, diz-nos o instinto que é melhor abrigarmo-nos da chuva, não vá ficarmos molhados.
E pronto, depois de ultrapassada a difícil escolha de qual das arcadas nos abrigará melhor – eventualmente alguns ficarão ali até vir o sol, como o burro do outro -, toca a dirigirmo-nos para lá, em passo de corrida, como não poderia deixar de ser.
O problema é que, se corrermos, vamos levar com mais água do que se andarmos, ou seja, ao deslocarmo-nos mais rápido apanhamos com gotas que, se fossemos a andar, já teriam caído no chão quando por lá passássemos. Fiz-me entender? Ainda bem.
“Mas se formos a andar, ficamos mais tempo sujeitos à intempérie…”, com esta é que me lixaram agora! (também tenho resposta para essa, mas Eu não quero estar aqui a densificar a coisa…)
Então, podemos facilmente concluir que, por vezes, é imperativo assumir que vamos ficar molhados que nem uns patinhos (os pintos não se molham, pois não?), e não adianta correr ridiculamente, muito menos com a pastinha, o jornalinho, ou a mãozinha por cima do penteado. Mais vale caminharmos, dignamente, como quem diz: não é uma molha que vai lavar a minha postura.
É assim que se comportam os nórdicos quando neva – que dói mais que a chuva.

2 Comments:

Blogger Mac Adame contribuiu com estas palavras sábias:

Se fosse só aí que os nórdicos se comportam dignamente...

janeiro 17, 2006 8:01 da tarde  
Blogger Rafeiro Perfumado contribuiu com estas palavras sábias:

Será por isso que os nórdicos são louros? Sempre ouvi dizer que a neve queima! ;)

novembro 26, 2006 12:27 da manhã  

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