E assim se filosofa nas nossas ruas

Lá ia Eu, Praça da Alegria acima, quando o meu rumo foi desfeito por um Português (estão a ver o tipo, não é? Esse mesmo!). Parou em frente à montra de uma barbearia das antigas e, tal como Eu, dá-se conta que o carrasco dos cabelos se encontra lá dentro, partilhando o silêncio e a penumbra com um jornal e com a sua bata.
Com o vigor de quem bate nas costas de um companheiro de armas que não vê há muito tempo, atinge duas vezes o vidro com a palma da mão e diz (alto, muito alto): “Atão, pá?!”
O outro - que se mexeu alguma parte do corpo foram os olhos - deve ter retorquido:" Estou fechado"; porque a resposta veio quase agarrada à interjeição (com a mesma intensidade sonora e assertiva): "Estás fechado?! Então abre a porta ou sai cá para fora que já não ficas fechado". E de lá de dentro ainda deve ter vindo um "estou a descansar", justificação novamente rebatida ao milésimo (sempre no mesmo tom apregoador):"A descansar?! Descansas quando morreres, pá".
Entretanto, as palavras foras vencidas pela distância porque, infelizmente, a minha vida é mais do que tomar conhecimento das conversas alheias, e ainda havia muita rua para deixar para trás até ao meu destino.