Desespero

O teu choro esgaça os frágeis atilhos que me prendem à razão, afasta-me da maturidade que já devia ter. As lágrimas secam o meu dia; a cara que as chama esgota-me a alegria; e o som, esse, cala todos os outros, para ficar a ecoar muito para lá do que dura. O peso desse pranto atraiçoa-me o sustento, enfraquece-me os joelhos, aproxima-me de ti, do teu tamanho, daquilo que vês daí, de onde estás. E quando sou pai desse choro, o seu cúmplice, aquele que o instiga, então, a raiva que sinto contamina o que sou e o que quero ser, tira a importância do que já fiz e quero fazer, empurra gritos líquidos que nem sempre se podem conter. Enfim, revolta-me contra mim e contra ti. Entristece-me. Apaga-me. Silencia-me.
Como eu queria que a vida não nos contrariasse.
Quem me dera que o respeito nascesse, não fosse imposto.
Como eu gostava que na tua cara só se desenhassem risos e sorrisos.

A todos aqueles que, como eu, gostavam que o choro das crianças parasse com um abraço.