Tropeções democráticos

“A democracia é o pior de todos os sistemas com excepção de todos os outros
Sérgio Godinho


Estes últimos acontecimentos mundiais que nos demonstram a fragilidade e volatilidade da organização racional (?) das sociedades humanas em sistemas políticos democráticos - tumultos pró-demissionários na Hungria e cambalhotas no poder estatal da Tailândia – recordam-me um episódio passado no interior desta cápsula da sociedade mundial a que gosto de chamar “minha família”, episódio este que, assim à primeira olhadela, pode parecer não ter nada a ver com os referidos acontecimentos, e na realidade não tem mesmo (a não ser o facto de ser despoletado por esta mania estranha de querer sentar o mEu comportamento na cadeira da democracia, até na relação com os mEus próprios filhos).

Tudo se passou num almoço em que, aproveitando um silêncio que se prolongava há alguns minutos, Eu resolvi soltar a coragem que fui engolindo aos tragos e sujeitei a seguinte proposta à consideração dos miúdos num tom solene e disposto a mais explicações, como de resto a ocasião requeria:

- Então o que é que vocês acham do pai pôr um brinco?

A minha filha dispara de imediato uma gargalhada daquelas que foi buscar à caixinha onde guarda a sinceridade inocente da tenra idade – contagiando o irmão - e quando dá tréguas ao riso sai-se com esta:

- diz lá outra palhaçada, pai
- palhaçada? Qual palhaçada?
- dessas...
- dessas? De quais?
- tipo dessas, do brinco...

Escusado será dizer que o assunto ficou por ali, já que não estava criado o ambiente para uma discussão séria e democrática, e muito menos para explicações suplementares.

E assim, com episódios como este, interiorizo cada vez mais fundo que, por vezes e repito “por vezes”, não há nada como calçar a democracia com luva de ferro para evitar dissabores na apreciação de questões que à partida não deveriam estar sujeitas à participação activa de todos, mas que as regras do jogo democrático assim o obrigam (e não me quero alongar mais que isto já está a fugir do âmbito do que se costuma ler aqui e muito menos revelar qual foi a minha decisão depois).

1 Comments:

Blogger Inha contribuiu com estas palavras sábias:

Cá para mim puseste o brinco.:P

setembro 22, 2006 5:34 da tarde  

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